Esse meu artigo foi publicado no Hôtelier News. Leia AQUI.
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De acordo com a consultoria Bain and Company, o mercado de luxo nos países que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), deve crescer, em média, 25% nos próximos cinco anos.
Mundialmente, esse segmento movimenta 220 bilhões de dólares.
No segmento turístico, estudos da OMT (Organização Mundial de Turismo) e da ILTM (International Luxury Travel Market), revelam que o turismo de luxo no mundo movimenta 3% do total do volume e 25% da receita do setor. Estamos falando de um turista que gasta 20.000 dólares no total de cada viagem, em comparação aos 2.500 dólares do turista normal, de acordo com o “World Travel Market Trends Report”, da Euromonitor.
E o Brasil?
Com um crescimento invejável da economia, o mercado de luxo vem aumentando exponencialmente nos últimos anos.
Alguns números da GfK Brasil em parceria com a MCF Consultoria:
* Em 2009, mesmo com a crise financeira mundial, o mercado de luxo (em geral) no Brasil, faturou US$ 6,45 bilhões, 8% a mais do que em 2008.
* A previsão é que cheguemos a 10% de aumento em 2010.
* Representamos 70% do total do mercado de luxo da América Latina
* Representamos 70% do total do mercado de luxo da América Latina
* O segmento cresceu 35% nos últimos 7 anos no país.
* Hoje, o mercado de luxo representa 3% do PIB nacional.
* 15 novas marcas de luxo estão “na fila” para entrar no nosso país (mesmo com a altíssima tributação e burocracia que nos “assombra”)
* São Paulo representa 70% do segmento no país.
* Brasil tem entre 800 mil a 1,2 milhão de pessoas que são consideradas consumidoras desse segmento.
E como o turismo se posiciona nesse fascinante mercado potencial? Como consolidamos o Brasil como um destino de luxo mundial?
Algumas iniciativas já foram tomadas, como o acordo da EMBRATUR com a BLTA (Brazilian Luxury Travel Association) para a divulgação do destino “Brasil” no exterior. Não é raro encontrarmos um stand da EMBRATUR (cada vez melhor construídos e organizados) em feiras de turismo renomadas pelo mundo.
Mas devemos nos perguntar: “Quando pensamos na marca Brasil, o que vem a nossa cabeça? Que experiência o turista leva dessa marca?”
Fonte: www.turismo.gov.br
Diversão, diversidade, exotismo, música, dança, carnaval, natureza? Claro que insegurança, pobreza e turismo sexual ainda aparecem nas pautas de jornais do mundo todo sobre nosso país, mas, sem dúvida, a alegria é nosso principal cartão de visitas. Qualquer pessoa que diz ser brasileiro lá fora recebe prontamente um sorriso antes de qualquer outro comentário.
E conforto, qualidade de serviços, design, tradição, infraestrutura, entre outras palavras que tangibilizam o luxo? Nossa marca transita nesses ambientes?
A resposta é “estamos caminhando”, mas ainda com MUITO trabalho pela frente para nos posicionar como um destino de luxo mundial. Algumas conquistas estão ajudando:
• Temos Pousadas e Hotéis premiados e reconhecidos mundialmente por publicações renomadas como Condé Nast Traveller.
• Abertura de vôos diretos (constantemente lotados) do Oriente Médio para São Paulo, como Emirates e, mais recentemente, Qatar Airways.
• É brasileira a agência de turismo de luxo (Teresa Perez), campeã mundial de vendas da Virtuoso (uma das mais reconhecidas redes de agências e fornecedores de turismo de luxo de mundo).
• A BSH Internacional também já divulgou que o REVPAR (receita de hospedagem por apartamentos disponíveis para venda) dos hotéis de luxo de São Paulo, por exemplo, cresceram cerca de 11,97% ao ano, nos últimos 4 anos. A ocupação dos empreendimentos de alto padrão do Rio de Janeiro ultrapassa os 60%.
• As Redes Jumeirah, Hyatt e Four Seasons já anunciaram inter
esse no Brasil, sendo que a Four Seasons pensa na abertura de 3 empreendimentos, um deles possivelmente no Rio de Janeiro até 2014.
esse no Brasil, sendo que a Four Seasons pensa na abertura de 3 empreendimentos, um deles possivelmente no Rio de Janeiro até 2014.
• De acordo com reportagem da Revista Época Negócios de 26 de Março desse ano, a super marca de Luxo Louis Vuitton (do grupo LVHM) também demonstrou interesse em abrir um hotel no país com consumidores ávidos a gastar mais de 30 mil reais em uma bolsa ou 5 milhões de reais em um imóvel.
Somos o foco dos investidores internacionais em função dos Jogos Olímpicos 2016 e da Copa 2014, mas precisamos ter cuidado, pois existe uma “euforia perigosa” no ar com relação à abertura de novos hotéis. A própria BSH já afirmou que não há espaço nos próximos três anos para a construção de novos hotéis de luxo em São Paulo e que a tendência é que a diária média evolua em razão da demanda. Ou seja, precisamos investir e melhorar o que já temos. Elevar nossos produtos e serviços a um padrão ainda mais alto de excelência.
Entre os fatores críticos de sucesso: aumentar a sensação de segurança, flexibilidade da lei da reciprocidade para vistos americanos, melhor condições da malha aérea e aeroportos, consistência (produtos e serviços) e obsessão na busca de melhor qualificação de mão de obra. Tudo isso tendo o governo e a iniciativa privada trabalhando juntos.
Vamos deixar claro que tratamos aqui do luxo tradicional (ou aspiracional, sensorial) e não do ostentatório. Resorts de 500 apartamentos com uma área de lazer gigante e dezenas de crianças correndo ao redor da piscina estão fora da análise. O luxo contemporâneo tem a ver com o “ser” e não o “ter”. Falo de estilo de vida, de sensações, de significado que esses produtos e serviços trazem para sua vida.
A “experiência proporcionada” é a única real diferenciação no momento em que o luxo atinge altos níveis de intangibilidade. Mais que passar uma mensagem é preciso contar uma história.
E quem são esses “novos” turistas que consomem luxo?
De acordo com a Luxury Marketing Council, os clientes de luxo:
• Estão dispostos a gastar mais.
• Tendem a ser mais fiéis.
• Indicam outros clientes se solicitados.
• Tendem a ser mais fiéis.
• Indicam outros clientes se solicitados.
• Representam um indispensável “boca a boca” no segmento de luxo.
• Não se importam com preço se forem convencidos do valor da experiência.
• Querem memórias únicas, sofisticadas e exclusivas.
• Querem aproveitar suas fortunas mais do que mostrá-las.
• Para capturá-los é importante vender paixão, conhecimento, e experiências excepcionais.
Dentre ao “affluents”, nicho de clientes que mais consomem luxo no mundo, somente 14% dos seus gastos são direcionados ao turismo. Não há dúvida da exigência de uma super especialização para conseguir captar e fidelizar esse tipo de turista. O investimento no capital humano no Brasil é prioritário para o segmento. Relacionamento está na base de um atendimento de luxo.
Claus Lindorff, Diretor Executivo da Euro RSCG agency BETC Luxe, ressalta: “O novo estilo de viajar, incluindo turismo cultural e educativo, o geoturismo, voluntariado e o novo ‘slow travel’, estão atendendo esse desejo eminente de mudança no estilo de vida. As redes sociais, por exemplo, estão levando as pessoas a um mercado mais amplo e esse hiper enfoque nos valores sociais nas viagens tem florescido.”
Pousada Maravilha – Fernando de Noronha
(Fonte: userserva.wordpress.com)
Quais nossas oportunidades para um futuro sólido no segmento de turismo de luxo no Brasil?
* Focar no que o turista estrangeiro quer encontrar e não no que nós achamos que ele espera. Pergunte a qualquer turista e ele vai responder que veio ao Brasil de férias porque busca areia branca, mar limpo com água morna, natureza exuberante, cultura, hospitalidade, música, dança, alegria, história e culinária típica. Mas não é raro hotéis 100% nacionais querendo oferecer cozinha e decoração internacionais.
* Outra oportunidade ainda mal aproveitada são as linhas de trem. A linha turística que existe no Estado do Paraná teve 30 mil turistas estrangeiros em 2006, dentro do total de 140 mil daquele ano, por exemplo.
A ABOTTC (Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos Culturais) deixa clara sua preocupação com a geração de dados confiáveis e perfil do turista no s
etor, suas motivações e expectativas. Ainda é necessário um esforço redobrado, apoio e maior visibilidade para essa área que remete às nossas raízes culturais e históricas, ainda tão pouco exploradas.
etor, suas motivações e expectativas. Ainda é necessário um esforço redobrado, apoio e maior visibilidade para essa área que remete às nossas raízes culturais e históricas, ainda tão pouco exploradas.
* Golfe, outro exemplo. A prática esportiva, que movimenta um segmento milionário de turismo no mundo, poderia ser muito mais explorada. Com idade média de 37,8 anos e renda anual de 45.100 dólares, o perfil do turista de golf procura por novos campos em locais e cenários diferentes. Além disso, de acordo com o site “Golf.tur.br”, eles estão dispostos a pagar diárias acima de 200 dólares e outros 200 dólares em atividades esportivas, compras, restaurantes e bares de hotel, o que faz com que a média de gastos seja de 500 dólares por dia, com uma permanência mínima de 10 dias.
Como conclusão, demanda existe, oferta de hotéis também. Precisamos é começar a pensar mais amplamente na “experiência completa” do turista que vem ao Brasil. Aeroportos, Cias.aéreas, transporte, estado de conservação do nosso patrimônio histórico e cultural, mão de obra qualificada e com conhecimento básico de inglês, entre outros.
Temos que chegar a um ponto em que o Brasil alcance o patamar que hoje pertence a Angra dos Reis, Paraty, Florianópolis e Fernando de Noronha, os 4 destinos de luxo (mais exclusivos) do Brasil.
Depois deles, destacam-se os destinos de natureza mais reconhecidos pelo turista de luxo, Amazônia, Foz do Iguaçu, Chapada Diamantina, Lençóis Maranhenses, e os urbanos, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Como uma apaixonada pelo assunto, trabalhando e estudando muito sobre o turismo de luxo, acredito que o Brasil está dentro do futuro do luxo contemporâneo, sem ostentação, com um enfoque cultural, com mais consciência ambiental e responsabilidade social. As experiências com as comunidades locais, por exemplo, agregadas ao verdadeiro espírito hospitaleiro inato do nosso povo, nos aproximam, cada vez mais, de um turista com alto poder aquisitivo, já farto do consumo excessivo e de uma vida cada vez mais artificial e desconectada.
Brasil, um “LUXO” de país!