23 de novembro de 2009

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Liderança e Visão sobre o Brasil por Jorge Gerdau

Semana passada estive no II Ciclo de Decisões, uma reforma no pensamento (CEO Fórum 2009) em Porto Alegre/RS. Ouvir Jorge Gerdau Johannpeter, fundador e atual Presidente do Conselho de Administração Grupo Gerdau, é sempre uma aula de gestão e de visão coerente do mundo dos negócios.
E, com a participação de Eduardo Giannetti, economista e cientista social, como “provocador” do debate, nem preciso dizer que o dia foi extremamente interessante.

 


LIDERANÇA

* Liderança é um comportamento pessoal.
* Existem líderes barulhentos e silenciosos, mas os 2 podem dar resultados.

* Pontos chaves para um grande líder:

1) Foco claro “onde estou e onde quero chegar” – isso é uma evolução permanente, pois o ambiente muda constantemente.

2) Manter os “stakeholders” satisfeitos.

3) Gerenciar bem os recursos – criar as condições adequadas para fazer a coisa acontecer e sempre perguntar: “O que estou construindo para atingir meus objetivos?”


EMPREENDEDORISMO
Jorge Gerdau cita Peter Drucker: “Todo sonho deve ter uma cota de utopia!”.
Devemos sempre “
sonhar alto, ter uma cota de visionário” complementa o empresário, com seu “tá certo” no final de cada frase, revelando um engraçado vício de linguagem.

Conselhos aos jovens empreendedores:
1) Tomar riscos e decisões

2) Tem que disputar muito

3) ATITUDE (querer aprender) e DISCIPLINA (estudar direito as coisas, analisar “de novo”) Sempre buscar mais informações. Tem que ter sempre planos B e C.

Ao terminar seus comentários, Eduardo o “provoca” com a citação de Goethe: “O maior inimigo da ação é o conhecimento.” Jorge, de “bate pronto” rebate: “Aí é que está a diferença entre o intelectual e o empresário”…risos na platéia!
Na verdade, Jorge Gerdau fala alemão e é leitor assíduo de Goethe. Ele discorre sobre a teoria do escritor e, no final, afirma:
“todo empresário deve usar uma cota de estupidez, senão não faz. Sua obsessão por estudos e pelo conhecimento fica claro ao longo do evento. “Nada anda sem conhecimento, mas é importante ter processos para tudo funcionar.”

FRACASSO
Giannetti provoca: “
Em uma economia de mercado, o fracasso é normal (regra natural do jogo) e é muito bem aceita nos USA, por exemplo. No Brasil, é até moralmente ruim, pois sua reputação pode ficar afetada. O que vc acha sobre isso?
E Jorge, responde que não sabe, que talvez não tenha estudado suficientemente para responder isso. Aliá, durante outros questionamentos também admite não saber profundamente sobre certos tópicos.
Achei sensacional um executivo desse porte afirmar que não sabe! Me passou ainda mais respeito e credibilidade.

Outros CEOS, como Bernardo Gradim da Braskem e Bernardo Hees da América Latina Logística (ALL), que compunham a 2ª parte da discussão, complementaram: “Crítica ao sucesso é um limitador ao sucesso de empreender. As religiões tem uma parcela de culpa nessa visão.”

CRISE
Quanto à crise, Gerdau ressalta a “humildade”. Pouc
os empresários assumem que “o bonde estava passando e eu não analisei tal e tal ponto“.

Euforia é enganativa. Otimismo é um estado mental perigoso. A “embriaguez do sucesso” pode nos levar a decisões desacertadas (“otimismo inconsequente”).

Nos anos 90, o México era a “bola vez”, como o Brasil é hoje. 15 anos depois, o México não é nada. Não aproveitou para fazer as reformas necessárias para crescer com consistência. Esse é o medo dos empresários: Brasil se “perder” nessa euforia e não “trabalhar” em um plano de médio e longo prazo.

Estamos a 20 anos crescendo 2,5%. Não há nada que realmente nos dê “CONSISTÊNCIA” e “CONFIANÇA“.

E Gerdau arremata, incrivelmente ainda cheio de paixão, aos 72 anos: “Quero um sonho diferente para o Brasil. Chega de salário fome!”

BRASIL
Nosso ambiente de negócios é tão complicado que, se o Bill Gates tivesse começado a montar a Microsoft em uma garagem aqui no Brasil, ainda estaria lá e vendendo softwares piratas.</span >

* Burocracia / Gestão Fiscal – A Gerdau está em 14 países e eles só tem processos trabalhistas no Brasil. Para ter todos seus tributos geridos corretamente, a média dos outros países é gastar 120hs/ano com isso. No Brasil, são 2.600 hs. No Canadá, 1 funcionário gasta meio turno por mês para gerenciar os dados fiscais. Aqui, a empresa mantêm 200 profissionais para sua gestão fiscal. Funcionários que não produzem nada…

O problema é que o Brasil perde sua competitividade no setor industrial.

Necessitamos:
* Reforma Tributária
* Reforma política

* Formação de capital humano
* Infra-estrutura
* entre outros

Entretanto, investimos somente 1,2% do PIB. Isso é ridículo!

Exemplo: Aeroportos – essa indústria cresce 20% e toma-se anos discutindo uma pista a mais em Guarulhos. O que precisamos são mais 2 ou 3 aeroportos em São Paulo.
Onde está a política ferroviária?

Governança? Não existe!

Vivemos na “improvisação”…
Brincar com 2/3 anos é euforia…uma “irresponsabilidade coletiva”.


Sem a
MERITOCRACIA aplicada à gestão política, o Brasil não vai para frente. Além disso, EDUCAÇÃO é a outra palavra. E falamos de educação básica.
Mas ainda, aqui no Brasil, muitas pessoas não querem receber educação, a não ser quando ela é assistencialista. Tem que ser algo sustentável. Reformar uma sala de aula não adianta nada.

A pirâmide: GOVERNO / SOCIEDADE / EMPRESARIADO deve trabalhar com os mesmos objetivos.

 

  • Vocação para a riqueza e não para o trabalho = Empréstimo
  • Vocação para o crescimento e não para a poupança = Inflação (BRASIL)

A margem de 6% de crescimento para 2010 é normal, pois estamos saindo do 0% e ainda viemos de uma onda cíclica que isso estará propício. Mas a pergunta é: “E depois????”

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E termino o resumo do evento com a frase que estava no painel, atrás dos convidados:
“O conhecimento dever ser permanentemente revisitado e revisado pelo pensamento.”
Edgar Morin – Filósofo francês

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