19 de fevereiro de 2024
VoltarImpacto do G20 no Brasil no Turismo – Reportagem O Globo
Participei de uma reportagem do O GLOBO ,
Leia a reportagem inteira AQUI , e abaixo minha entrevista completa.
Pergunta: A presidência do Brasil no G20 deverá trazer para o Rio encontros diplomáticos ou paralelos ao longo de todo o ano. Como hotéis, bares e restaurantes e demais negócios que vivem do turismo podem se preparar para aproveitar essa demanda?
Resposta: Eventos desse porte trazem grande exposição, resultando em ganhos de imagem e promoção para o turismo, com resultados positivos para o setor hoteleiro, de alimentação e entretenimento em geral.
Entre as estratégias que os negócios relacionados ao turismo podem adotar se destacam:
- Construir parcerias com órgãos governamentais, organizadores de eventos e empresas envolvidas em eventos oficiais.
- Fornecer uma equipe bem treinada com protocolos internacionais apropriados e sensibilidade cultural.
- Investir na modernização de instalações e infraestruturas para satisfazer as necessidades específicas das delegações e participantes do G20.
- Desenvolver campanhas especiais de marketing destacando conveniência, conectividade de alta velocidade e serviços exclusivos. Além disso, é sempre uma boa ideia divulgar ofertas e pacotes especiais para os participantes do evento.
- Crie um cardápio especial com autêntica culinária brasileira com sabores internacionais.
- Ganhar a confiança dos visitantes, dando maior ênfase à segurança e à saúde através de protocolos rigorosos e transparentes.
- O turismo sustentável é um interesse crescente entre os turistas. As empresas que integram práticas sustentáveis nas suas operações podem atrair grandes segmentos da sociedade que se preocupam com o ambiente.
- A flexibilidade e a capacidade de responder rapidamente às mudanças nas condições dos eventos são essenciais.
Pergunta: Eventos diplomáticos têm alguma particularidade, dentro do turismo de negócios em geral? Quais são e no que diferem em termos de impacto na economia e nos negócios?
Resposta: Sim, eles tendem a ter um impacto mais amplo e duradouro, tem ênfase no protocolo diplomático e etiqueta formal. O impulsionamento do turismo a longo prazo é um dos grandes benefícios, além de fortalecer a reputação do país como um parceiro confiável no comércio.
A presença de líderes políticos e representantes de organizações internacionais proporcionam negociações estratégicas e condução de acordos internacionais.
É importante notar que o impacto econômico pode variar dependendo de como o país anfitrião aborda a organização do evento, implementa estratégias de marketing e incentiva a participação ativa de vários setores econômicos. O sucesso a longo prazo depende muitas vezes da capacidade de aproveitar as oportunidades que surgem destes encontros internacionais.
Entre outras características específicas desse tipo de evento estão:
- Objetivo de comunicação é a diplomacia
- Mídia global e visibilidade
- Impacto duradouro na reputação
- Protocolos que exigem etiqueta específica
- Impacto na política e economia
- Maior segurança
- Gestão específica da mobilidade urbana
- Expectativas de hospitalidade de alta qualidade e gastronomia autêntica local
- Promoção da cultura e eventos artísticos locais
A realização de eventos diplomáticos também atrai turistas mais profundamente interessados em explorar a cultura, história, gastronomia autêntica do país e atrativos locais. As estadias costumam ser prolongadas, proporcionando a oportunidade dos participantes e delegações desfrutarem de atividades de lazer após as reuniões oficiais.
Pergunta: Eventos globais tendem a colocar destinos turísticos em evidência, com benefícios que se espalham pelos anos seguintes. Por que os Jogos Olímpicos de 2016 parecem não ter tido esse efeito e como aprender com eventuais erros do passado para aproveitar melhor eventos diplomáticos, como os encontros do G20?
Resposta: Eventos globais tem inúmeros benefícios, mas é preciso muita preparação, visão de longo prazo, estudo de estratégias anteriores em diversos destinos e, claro, investimentos assertivos.
Entretanto é vital pensar no legado e não apenas no curto prazo. Nem sempre o ganho maior está durante o evento. Os Jogos de Londres 2012 tiveram uma ‘invasão’ de atletas e amantes dos esportes, mas amargou queda de 50% no número de turistas tradicionais e 35% na frequência de museus, galerias e atrações turísticas. Em compensação, o ano posterior foi um ‘boom’ no turismo, um recorde. Fonte: Association of Leading Visitor Attractions e Associação Europeia de Operadores de Turismo (ETOA, na sigla em inglês). Um exemplo de planejamento e legado consistentes.
Sobre os Rio 2016, alguns aspectos contribuíram para que não houvesse legado positivo de longo prazo são:
- Falta de um plano de legado
- Promoção insuficiente do destino
- Subaproveitamento do investimento.
- Muitas notícias que ocuparam o espaço que deveria ser usado para lembrar o evento e o destino como o ‘próximo a ser visitado’:
- Escândalos de corrupção e a crise financeira que o país atravessava
- Escândalos de corrupção envolvendo membros do Comitê Olímpico Internacional e a construção das arenas olímpicas.
- Abandono posterior ou não uso das estruturas e as dívidas milionárias deixadas pelo evento.
- Suspensão dos patrocínios de vários atletas brasileiros, entre eles alguns medalhistas olímpicos.
- Questões de segurança
- Instabilidade política da época.
Fonte do item 3: Estudo ‘Legado Cultural dos Jogos Olímpicos do Rio 2016” (Universidade de Liverpool, USP e Aberje).
Para aprender com os erros do passado, algumas estratégias serão vitais. Em 2023, Delhi (Índia) registrou aumento de 40% na procura de viagens pós a passagem do G20. E o sucesso não foi por acaso. O setor do turismo foi considerado um motor chave para o crescimento económico inclusivo no país, envolvendo as populações locais e a sustentabilidade ambiental. Foi o ano da ‘Visite a Índia’, um projeto consistente do Ministério do Turismo local.O investimento na melhoria da infraestrutura, conectividade e embelezamento das cidades sede do G20 ano passado, as políticas foram focadas em desenvolver um trabalho de turismo sustentável, promovendo o patrimônio cultural e preservando a diversidade. Sob o ponto de vista turístico, o pós G20 transformaram Delhi em uma cidade ainda mais atrativa para os viajantes mundiais.
Entre as estratégias que outros países realizaram para receber o G20 com bons resultados e ótimo legado estão:
- Plano de legado sustentável
- Gestão Eficaz da imagem do destino, antes, durante e depois do evento. Ex.: ressaltar as qualidades únicas do local e destacar as melhorias feitas em resposta a desafios passados.
- Investir em práticas sustentáveis.
- Capacitar empresas locais
- Melhoria no transporte para proporcionar uma experiência mais agradável.
- Parcerias com restaurantes para atrair participantes e delegações.
- Mais conectividade de transporte
- Ações de destinos turísticos para incentivas as estadias prolongadas.
- Promoção de vários eventos paralelos por destinos turísticos nacionais como festivais e atividades culturais.
- Treinamentos de atendimento a clientes que os hotéis e restaurantes receberam para lidar com os protocolos e expectativas dos participantes do G20.
- Campanhas de marketing online direcionadas para destacar as atrações locais e garantir uma presença digital forte.
- Modernização das instalações para conferências.
- Adição de frotas de aeronaves com vôos diretos para destinos chave.
Com a aplicação efetiva das melhores práticas já aprendidas pelo próprio Brasil e por diversos destinos que receberam eventos globais, é possível usufruir dos benefícios imediatos, e também (e principalmente) gerar um impacto econômico e turístico sustentável para nosso país.