6 de maio de 2010

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O Turismo e a Hotelaria se adaptam ao Luxo Contemporâneo

Esse meu artigo foi publicado no site Gestão do Luxo. Leia AQUI.
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O Segmento de viagens está passando por uma profunda mudança.
Nesse mês, foi publicado um artigo na Revista Know intitulado “The Future of Travel: The New Vocabulary of Travel and Tourism”. Ele se baseia em um estudo da agência de comunicação Euro RSCG Worlwide PR, sobre o comportamento de viagem de mais de 2.000 turistas americanos, franceses e ingleses e o impacto em uma “nova” indústria que precisa se reciclar para entregar o serviço esperado.

Marian Salzman, Diretora Geral da Euro RSCG Worldwide PR, afirma: “Durante anos as pessoas entendiam viagens por uma perspectiva pequena, centrada na indulgência, escapismo e diversão. Agora, estão procurando fazer as experiências de viagens mais significativas e mais alinhadas com seus valores e objetivos pessoais. Com milhões de pessoas esperando sentirem-se bem sobre o impacto que têm no mundo, está acontecendo uma reforma de valores e expectativas de viagens.”

Ainda segundo o estudo:

• 66% das pessoas se consideram “cidadãos do mundo”, sugerindo atitudes e enfoque mais globais das marcas.
• 73% crêem que uma viagem mais longa é essencial para tornar uma pessoa mais interessante.
• 59% entendem que para “onde” e “como” viajamos diz muito sobre quem somos.

Esse novo viajante demanda adaptação das marcas do segmento turístico:

• Aceitar e adotar o “verde” como forma padrão de fazer negócios.
• Oferecer produtos e serviços que satisfaçam o desejo das pessoas de viver mais conscientes ambiental e socialmente.
• Dominar os meios sociais para interagir com seus consumidores antes, durante e depois da viagem.

• Adotar novos modelos de luxo.

Esse último item realmente é uma das maiores revoluções. Há uma conscientização emergente entre os consumidores de luxo, já fartos do consumo excessivo e de uma vida cada vez mais artificial e desconectada. A Euro RSCG descobriu que as pessoas estão ávidas por um maior significado em suas vidas.

 

• 79% dos entrevistados estão preocupados que a sociedade tenha se tornado superficial, preocupando-se com coisas que realmente não importam.

• 66% dos consumidores entendem que as pessoas estão desconectadas do mundo natural.
• 53% das pessoas da pesquisa acham que a comunicação digital está enfraquecendo os laços humanos.
• Alarmados por esta realidade, 84% dos entrevistados diz estar fazendo um esforço real para melhorar quem são e como vivem.

Claus Lindorff, Diretor Executivo da Euro RSCG agency BETC Luxe, ressalta: “O novo estilo de viajar, incluindo turismo cultural e educativo, o geoturismo, voluntariado e o novo ‘slow travel’, estão atendendo esse desejo eminente de mudança no estilo de vida. As redes sociais, por exemplo, estão levando as pessoas a um mercado mais amplo e esse hiper enfoque nos valores sociais nas viagens tem florescido.”

Entender esse mundo emergente de viagens, com todas suas tendências interconectadas e sobrepostas, será vital para qualquer marca que busque crescer no mercado.

Se falarmos de hotelaria de luxo, a mudança é ainda mais cheia de detalhes.
De acordo com Chris Sanderson, do The Future Laboratory, o consumo excessivo de luxo não é mais sinal de sucesso. Não é mais visto como normal a compra de coisas desnecessárias enquanto pessoas morrem de fome e o mundo está super aquecendo. Isso não parece mais “correto”. Nós estamos presenciando a criação de um novo luxo “responsável”.

Entretanto, a idéia é ainda não estar disponível para todos. Ser desejável por todos e acessível para poucos continua sendo a essência do luxo. Queremos nos sentir exclusivos, únicos. Aí está a importância do luxo para nós.

Mas o luxo também não será um assunto conectado somente com “consumo”. Provavelmente veremos uma conexão maior com experiências culturais do que bens materiais. Mais sobre “dividir” e “ser”, do que “ter”.

O relatório “Future Luxury” realizado por David Report, site especializado em estudos de mercado e tendências, aponta 8 tendências desse mercado que aspiram manter uma marca forte e sustentável a longo prazo:

1 – Qualidade Atemporal

Infelizmente temos comprado cada vez mais coisas por preços mais baixos. O mundo está cada vez mais cheio e com menos recursos. É hora de dizer não para produtos e serviços que visam alto volume de vendas e preços baixos, e que deixam de lado valores éticos e aspectos ambientais e/ou sociais.

 

O consumidor do futuro quer encontr
ar um hotel com comportamento e produto conscientes, tanto em termos de produto, quanto em termos de design e atitude.

 

Como exemplo, poucas pessoas jogam fora uma cadeira desenhada por Philippe Starck ou um relógio Patek Philippe. Por- que? Porque são peças atemporais, com um valor estético inestimável.

 

Infelizmente, muitos consumidores ainda têm dificuldade em ver diferença entre um hotel barato e um hotel que “não tem preço”. O “valor” para produtos de qualidade ainda é pequeno, mas isso vai mudar. Se analisarmos bem, qualidade é igual à maior longevidade e, automaticamente, menor desperdício.

 

No futuro, compraremos menos, mas melhores produtos. Preocupar-se com qualidade tem a ver com preocupar-se com nosso futuro comum.

 

2 – Segurança
Um lugar com ar puro, menos poluição e boa infra-estrutura, perto o suficiente de um aeroporto e bem longe do terrorismo, por exemplo, é o ambiente ideal do turismo no luxo do futuro. Tirando a “boa” infra-estrutura, o Brasil está muito bem posicionado como destino, não é?!

 

Nós não nos sentiremos mais confortáveis nas grandes cidades como costumamos nos sentir hoje. Veremos o surgimento dos turistas “cosmopolitas”, mas cada vez mais “interioranos”.

 

Poluição, altos custos de transporte e terrorismo mudarão o modo como as pessoas viajam. Segurança será a preocupação número um.
3 – Marca Emocional
Hoje somos bombardeados por propagandas por onde quer que passemos. Em pouco tempo, não confiaremos mais em propagandas, pois a sensação é de “invasão de espaço”. A validação de um hotel será medida através dos comentários dos nossos amigos (reais ou virtuais), contando suas experiências naquele mesmo local.
O desafio agora é o hotel encontrar novos métodos de relacionamento com seus clientes, envolvê-los, interagindo e oferecendo a experiência da marca de maneira relevante e de acordo com seus desejos.

 

Com a transparência e exposição inevitável do mundo digital, não se esqueça de cuidar da imagem do seu hotel: cumpra suas promessas e seja honesto.
4 – Um bom “karma”
Que diferença eu farei no mundo? O fator ético ganhará notoriedade. Causas filantrópicas e humanitárias. A cada centavo gasto, as pessoas vão querer ter a certeza de que estão contribuindo para a construção do mundo ideal onde elas aspiram viver. Mais e mais campanhas ambientais e de responsabilidade social serão vistas atreladas a marcas de hotéis de luxo. Esse item, sem dúvida, vai impactar, cada vez mais, na imagem e posicionamento das marcas de hotéis de luxo no mercado.

 

5 – Tempo
Tempo é (mais ou menos) uma das únicas coisas que se pode comprar com dinheiro. Por isso, é tão desejado. Quando perguntamos o que as pessoas mais desejam na vida, geralmente, ter “qualidade” do seu tempo é um das respostas mais comuns. Acordar pela manhã e fazer exatamente o que queremos é considerado um dos maiores luxos da vida. O mesmo sentimento que temos ao estar de férias. Os italianos definiram bem “as dolce far niente” (a beleza de não fazer nada, exceto relaxar).

 

Pela perspectiva hoteleira, quanto é possível fazer dentro de um hotel para fazer um hóspede esquecer-se das horas? Sentir-se tão confortável a ponto de lembrar “daquele” momento como sendo “só seu”? Lembre-se que vivenciamos o mundo através dos nossos sentidos. Sabores, músicas, aromas e texturas são exemplos que nos fazem lembrar certos momentos. Um hotel de luxo deve ser uma “Disney de sensações” para o hóspede que não está comprando uma diária de hotel, mas uma experiência de viagem.

 

6 – Cultura Local

A autenticidade de uma sociedade atrairá mais turistas no futuro. Enquanto o design se torna global, a produção virou local. Um exemplo disso são hotéis de luxo (geralmente pequenos), que vendem parte da sua decoração, composta por artesanato típico. Idéia sensacional!

 

Dentro dessa tendência é possível visualizar um novo luxo cultural. A hotelaria tem muitas oportunidades com relação a esse item. Se falarmos de gastronomia então, começaremos a ver mais e mais promoções de “Festivais Gastronômicos” (tão populares nos hotéis de luxo) com comidas típicas de sua região e não mais de culinária internacional.

 

Para ilustrar esse item, estive dias atrás conversando com uma agente de viagens pertencente ao networking da Virtuoso no Brasil, e ela me contou sobre um cliente seu que se hospeda em hotéis da mesma marca de luxo no mundo todo a trabalho, e estava indo de férias para Cancun. Na mesma hora, a agente fez uma reserva n
a marca que ele estava acostumado. Ele não aceitou: “Não quero um hotel em que eu me sinta trabalhando. Quero um hotel que me proporcione a sensação de que eu realmente estou em Cancun.” Ele acabou se hospedando em um hotel de rede nacional, mantendo seu estilo e com o toque “regional” que procurava.

 

Ressaltar o que há de original e genuíno de sua terra é mais do que tendência, é vital no mercado de luxo.

 

7 – Alimentação e Saúde

Saúde é, inquestionavelmente, um foco do luxo no futuro. Comida não é caro, mas alimentação saudável sim.

 

Não é de se admirar que inúmeros hotéis de alto padrão já disponham de cardápios “light” ou uma parte dos seus buffets com alimentação mais balanceada.

 

A tendência é aumentar ainda mais o escopo desse tipo de alimentação. Produtos orgânicos, “slow food” e a eco-gastronomia serão encontrados, a cada dia mais, nos menus e buffets dos hotéis mais elegantes do mundo.

 

8 – Edição Limitada
Há quem diga que o mercado de massa já acabou. A volta do “feito à mão” é a sensação no luxo do futuro.

 

A globalização nos força a comprar a mesma coisa, das mesmas marcas, no mundo todo. Mas as “edições limitadas” nos oferecem a sensação de customização, personalização. Não é a toa que vemos muitas marcas de hotéis de luxo ressaltarem: “Não queremos crescer. Vamos focar a exclusividade sempre. Esse é o nosso diferencial!” Certíssimo!

 

O grande problema passa pelo ego dos proprietários que, na maioria das vezes, não resistem às oportunidades de mercado e acabam criando uma rede de hotéis, já partindo para “padronização” e, começando assim, sua descida do “topo da pirâmide” da exclusividade.

 

Não há mais como se contestar que consciência global e social é a nova ordem no mundo dos hotéis de luxo.
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