Vivemos uma nova era no consumo e a experiência é uma das principais características. Antes, comprávamos para sermos diferentes e, ao mesmo tempo, aceitos. Entretanto, o prestígio e o status foram banalizados. Atualmente o consumo é emocional.
De acordo com Gilles Lipovetsky, filósofo francês e teórico da hipermodernidade, quando compramos um celular, não é para mostrar nossa riqueza (isso não faz mais sentido), mas para termos experiências lúdicas e emocionais.
Sensações e sentimentos devem permear experiências em hotéis, aviões, aeroportos, agências de viagens e ainda em todos os momentos inseridos nos processos de compra.
Turistas que vão à Nova York para fazer compras, por exemplo, são duas vezes mais numerosos do que os que visitam museus. Shoppings centers se tornaram locais turísticos, deixando lagos e parques para trás.
A busca pela experiência está chegando aos limites do estranho e, por isso mesmo, está se tornando interessante. Submarinos, desertos, gelo e savanas são quase o contrário do luxo e, mesmo assim, tornaram-se uma coqueluche no mundo do turismo de alto padrão. Hoje, viagens a trabalho ou lazer devem proporcionar a sensação de bem-estar, de prazer. A opção mais funcional ou mais barata não necessariamente é a mais escolhida atualmente.
Um exemplo disso é a explosão de spas dentro de hotéis. Afinal, a relação com o próprio corpo é uma das formas mais promovidas de experiência hipermoderna. E alguns valores mais considerados hoje estão corroborando as características do consumo da experiência:
- um viver mais intenso;
- a nova dinâmica da individualização;
- a experiência de si mesmo;
- a busca pela harmonia.
- A compra de um vinho pode ser somente a experiência final de um lindo passeio por um vinhedo ou adega.
- Antes as mulheres se dirigiam a uma loja de cosméticos e compravam maquiagem. Hoje, essas lojas oferecem massagem, ioga, terapias florais etc. O espaço é criado com o objetivo de “cuidar” da mulher de forma muito mais abrangente. O importante é fazer com que ela se sinta bem.
- A loja da Armani de Tóquio oferece um bar, floricultura, spa, night club e restaurante.
- A Levi´s Jeans oferece um miniparque de diversões em uma de suas lojas. Uma jacuzzi gigante faz com que o jeans se adéque ao corpo.
- Arquitetos famosos criando ambientes / designs exclusivos para marcas de luxo.
- A loja Baccarat de Paris é, ao mesmo tempo, restaurante e museu. O Musée Baccarat conta com 5.000 objetos de cristal.
- Festivais de música, cinema e cidades multiplicando festas regionais.
Agora exigimos a novidade como diferencial para chamar nossa atenção. Durante milênios não tínhamos necessidade de novidades. Como diz Baudelaire, o poeta francês: “O homem moderno tem uma nova paixão vital, a curiosidade”.
Não aguentamos mais o imobilismo da vida, até no zapping do controle remoto. Precisamos partir (viajar) e, muitas vezes, não aguentamos passar a vida inteira na mesma casa, no mesmo lugar.
r da cortina? Porque algo mudou na vida e precisamos traduzir o sentimento em algo tangível. É uma forma de êxito, a fossilização da experiência.
Essa função terapêutica serve para esquecer as decepções da vida.
E essa nova exigência do consumo de experiências, que substituiu o consumo estatutário, vive três características básicas:
a) Paradoxo: consumo de experiência x consumo responsável
É a disputa do prazer instantâneo versus o futuro. Mas ainda assim vemos uma preocupação maior com o meio ambiente através do turismo verde e da responsabilidade social.
Não dá mais para pensar em luxo sem sustentabilidade hoje, entretanto, o desafio ainda é grande.
b) A sensação é individual
Hoje não compramos produtos, mas marcas. A nova valorização das marcas é a insegurança do consumidor. Antes a mãe dizia para a filha o que vestir, como se maquiar.
Hoje, as marcas são as novas referências. Elas trazem experiência, fator fundamental para passar segurança ao consumidor.
c) Não é uma moda efêmera
Vivemos em sociedades superindividualistas. Não temos mais grandes igrejas, não temos mais grandes utopias políticas. O consumo é a especiaria da vida, o que dá prazer.
O anseio de rejuvenescer, de reavivar nosso tempo vivido, é realizado através de novidades comerciais, como se fossem pequenas aventuras. Todos aspiraram a isso, queremos uma vida intensa. Queremos um sopro de vida. Exemplos disso são mães que se vestem como as filhas, o boom das cirurgias estéticas etc.
Esse “hiperconsumidor” é como uma fênix que queima, mas que renasce o tempo todo.
O novo turista não aceita mais um papel meramente contemplativo. Quer ser o ator de suas próprias experiências, no cenário que projetou como ideal para realizar seus sonhos.
Com base nisso, vivemos a constante reinvenção do turismo mundial, e isso é só o começo!